Saturday, May 09, 2009

O que é ser uma pessoa com deficiência?



Acho que já passa da hora de reformularmos o conceito de deficiência, não para caracterizar determinadas características das pessoas, mas, para classificar suas posturas perante a vida!
(Francysco Pablo Feitosa Gonçalves)

Gostaria de agradecer ao colega do blog “O que é direito?” que escreveu sobre as condições que as pessoas com deficiência – por mim chamadas como pessoas deficientes mesmo, porque temos que passar nossa real situação e não formalidades inúteis – que passam diante as dificuldades. Se o colega não se importar desejaria comentar algumas partes que eu achei interessantes dentro do texto que gostei muito.

Primeiro fiquei refletindo sobre o que seria a palavra “subalternização” e fui procurar no dicionário, daí percebi que já sabia e num lapso de distração e não associei. Quando escrevi o texto “Deficiência e Preconceito” eu tinha lido o texto “APARTHEID CONTRA A PESSOA COM DEFICIÊNCIA” de Ana Paula Crosara de Resende e achei ótimo a referencia que se fez da palavra “apartheid” que foi muito posto em pratica em uma época na África do Sul. Aliás, a palavra quer dizer que se faz uma separação, a própria palavra tem o significado “vida separada”. Temos uma vida separada? Claro que temos! Primeiro não temos inclusão nos transportes, temos ônibus próprios para nos transportar, ao invés de ter adaptação em “todos” os ônibus, pelo menos em São Paulo e os estados dos Sul, lá para cima não se tem uma vida digna de ser descrita. Muitas pessoas que moraram ou nasceram no nordeste, descreve que muitas pessoas com deficiência são presas em suas casas e não podem sair por vergonha da família.

Será que o Apartheid que a escritora disse é o mesmo que o caro colega Feitosa quis dizer com subalternização? Penso que esses dois temas podem ser descritos como termos simbolizando o que as pessoas com deficiência sentem, uma vida separada que a sociedade sente que não somos capazes de superar e uma certa subalternização diante da família no qual alguns dependem. Eu, por exemplo, não posso dizer que não dependo tanto de minha família, muitos dependem e isso não é um luxo não, a família muitas vezes quer que dependam deles para subproteger. Conheço muitos casos assim, que a pessoa além de depender da família ainda tem que agüentar subalternização da própria família, até muito pior, existem famílias que usam o beneficio dessas pessoas para pagar alugueis e coisas assim. Tenho um caso desses dentro do meu convívio, meu namoro é feito desses fatos, se paga o aluguel com o beneficio de minha namorada e ainda é feita varias chantagens emocionais e até a proibição do namoro, se ela não fazer o que a família quer, é o inferno sobre a Terra. A mãe por sua vez, mexe na bolsa dela a cada nosso encontro, sendo assim, essa idéia no governo de dar o “pátrio” a mãe é perigoso, porque nem sempre são pessoas equilibradas. Para mim, a avaliação psicologia do responsável é primordial para se pensar em direitos das pessoas com deficiência.

Outra coisa é achar que o mundo é um mar de rosas, fatos comprovam que essa subalternização não ocorre só com a família, mas muitas entidades e escolas especiais que submetem essas pessoas. Por oito anos tive dentro de uma oficina abrigada que fazia serviços para empresas que pagavam uma mixaria, essa oficina era dirigida pela entidade AACD que vivia dizendo que só dava prejuízo, sendo que diziam e dizem ser filantrópicos. Nessa oficina vivemos todo tipo de privações, não podíamos namorar, não podíamos ir ao banheiro dois de uma vez, não podíamos almoçar conversando. Fora que na época, meu pai pagava oitenta e nove reais por mês, se pagava para trabalhar e não poder fazer nada, umas coisas como namorar a culpa foi de uma mãe “insana” que disse que se acontecesse alguma coisa com a filha dela iria chamar a policia. O serviço era precário e muitos que ali estavam era mandado pela própria entidade que chegava a avaliação que essas pessoas não podiam estudar porque não podiam aprender. Agora no Teleton dizem que são “santos” e lutam pela inclusão da pessoa com deficiência, que é uma inverdade diante desses fatos que escrevo, não somos submetidos a subalternização só das famílias.

Também existem casos na Estação Especial da Lapa aqui em São Paulo que é dirigida pelo governo do Estado, mais precisamente a primeira dama, que tratam a pessoa com deficiência física o mesmo que as de deficiência mental. Isso porque não há uma separação – lógico que não sou a favor de separar, mas as vezes características imaturas são confundidas com características da deficiência mental – da pessoa que tem deficiência física e aquela que tem deficiência mental. Assim todos são tratados como deficientes mentais, como se não houvesse um pingo de processos cognitivos dessas pessoas para uma avaliação que elas não podem ser tratadas como “crianças”e sim como adultos. Como se característica a infantização são totalmente culpa do estabelecimento em si mesmo? Acredito que realmente é um fato que é colaborado pela família da pessoa com deficiência que interna a pessoa em lugares como esses para alienar e subalternar elas. Seria um ato de ignorância? Não é. Essas pessoas sabem muito bem o que pensam e querem uma separação da pessoa com deficiência e a sociedade em si mesma, para não perder em alguns casos, o domínio delas dentro do núcleo familiar.

Ainda a coisa chega pior ainda, alguns movimentos que se dizem a “favor” das pessoas com deficiência fazem “corpo mole”. Sei lá se é um ato de má-fé ou de ignorância, mas o fato é que esses movimentos se recolhem em seus próprios núcleos e esquecem que existem pessoas que precisam de nossa ajuda. Não se precisa de atos políticos, mas atos de ajuda usando a lei doa a quem doer, seja com amor, ou seja, com a dor. Esse movimento que participei a dezoito anos chamado Fraternidade Cristã das pessoas com deficiência, foi fundado por um padre Henry François na França e 1942. Ele era doente e só foi feito padre, para morrer satisfeito de se tornar o que sempre quis ser, visitou muitas pessoas que foram mutiladas por causa da guerra. Uns dos seus lemas já com o movimento em andamento é que a pessoas com deficiência tinha que levantar e andar como estava no evangelho, coisa que ocorreu até certo momento dentro do movimento, porque se estagnou a luta da pessoa com deficiência dentro do próprio movimento. Tanto no caso da bolsa que a universidade Unip não quis me dá, que disseram que é uma coisa pessoal, tanto na falta de apoio na minha coordenação de uns dos núcleos de São Paulo e até o caso da pressão psicológica que minha namorada sofre correndo risco de vida por causa que ela tem arritmia cardíaca; simplesmente fecharam os olhos sobre esses assuntos, deixaram de prestar atenção a pessoa com deficiência e puseram sua atenção ao ato político em si. A Lourdes Guarda, umas das mais ativas fraternistas dentro do movimento e não porque não dizer fundadora dela aqui no Brasil, que morou num quarto de hospital toda vida teria ou tem – quem acredita e vida pós morte como eu – vergonha da luta ter acabado com um conformismo sem vergonha arraigado de sofismas sem menor utilidade. Perguntar pra mim o que quero que seja feito é um ato no mínimo a afronta a minha inteligência, pois não vou ensinar lideranças que estão tantos anos ai na luta, leis que deveriam saber. Cárcere privado é crime, com pressão psicológica piorou, ainda mais preconceito que é crime inafiançável. Um amigo que após minha saída desse núcleo ficou coordenador do mesmo me mandou um texto do Conade onde protestam sobre a redução de 5% das cotas das empresas para 3% graças ao safado do Senador Sarney olha o que respondi a ele:

“Ai vou te fazer uma pergunta pertinente a esse e outros artigos (pode me ligar pra me xingar se quiser)...o que o movimento pensa das micro dificuldades da vida? Sim! SE o movimento, leigo, que se diz ecumênico, e tem uma força que não sabe, tem feito? É amigão, nos conhecemos a dezoito anos e você sabe como penso, se o movimento não tem capacidade de resolver as micro dificuldades das pessoas com deficiência, não vai ter a capacidade de resolver um artigo do filho da puta do Sarney? O Vicente me procurou porque o shopping que ele foi tirou o elevador e disse que tinha rampa e não precisava de elevador...sabe que eu disse? Disse que a FCD não tem esse tipo fde luta porque dizem ser pessoal ai sabe que ele me respondeu? Tudo bem sempre fui SOZINHO...esse é a porra do sentimento quem passou no movimento, sentimento de solidão...

O que vou falar para os outros? Olha, estou com uma puta dificuldade de encontrar meios de ajudar a Marley a sair do julgo da família, o que posso dizer a ela? To aqui com meu coração sangrando porque a mãe dela (tida por vc como santinha) quase bateu na marley por causa de um copo de água...vou repetir, por causa de um copo de água. Então Carlos, como você mesmo disse pra mim, vc nã é burro, lembra que a Dona Lourdes Ribeiro já fez pelos deficientes até pular o muro? Precisamos amigão, pular o muro do egoísmo e parar com discursinhos hipocritas, temos que lutar sim contra de decretos como este desse canalha, mas temos também amigão, lutar pelos nossos e isso é praxi dentro de qualquer moimento. Amo demais a frater, só fiquei magoado por causa das circunstâncias, mas eu amo essa causa e Deus sabe o quanto quero lutar por ela, não deixem eu desanimar...nesse momento estou dando uma chance de mostrar tanto pra Marley quanto pro Vicente que eles nao estão sozinhos...se vcs fizerem eu acreditar, pode crer que eu volto, volto como uns dos maiores colaboradores que esse movimento ja teve...sinto que os que ja foram, guiam a mim para escrever isso a vc, somos espiritas e sabemos que eles podem fazer...

Preciso acreditar...”



Não preciso dizer mais nada, como disse no e-mail, não precisamos de discursinhos hipócritas e sim entrar na luta da pessoa com deficiência para valer seja com a dor, ou seja, com o amor. Pois é muito perigoso temos em mente que é muito melhor construir do que destruir, tudo na natureza é feito destruindo para construir; em todo o seguimento se vê que a pessoa com deficiente está com o estereotipo de inútil, de imprestável, que não pode fazer as coisas e não é verdade. No próprio segmento está assim, é muito melhor sermos conformistas do que sermos lutadores, é muito melhor sermos conformistas. Parafraseando Nietzsche só fazemos nosso próprio céu (ou paraíso) dentro do nosso próprio inferno, ou seja, não temos que viver somente no “paraíso” tem que ter nosso próprio inferno.

Bom, agradeço mais uma vez o caro colega Feitosa por esses palavras: “Não o conheço além dos posts que li no seu blog, mas posso dizer que tanto é difícil traduzir o que é ser uma pessoa com deficiência meu caro Amauri, como é fácil perceber que você é uma pessoa eficiente!” e dizer que ser “eficiente” é muito mais difícil do que ser deficiente num país que ainda vigora o “paternalismo” que gera sim o subalternalizacao e o Apartheid não só da pessoa com deficiência, mas a linha de pobreza toda.

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