Monday, January 05, 2009

O Esclarecimento e a Inclusão



Muitas pessoas me perguntam: Amauri o que você pensa sobre a inclusão das pessoas com deficiência no mundo hoje que se diz “Globalizado”? Bem, segundo algumas informações, muitos países e a União Européia só começaram agora (2004) e nos Estados Unidos nos anos noventa. Agora devolvo a resposta com outra pergunta: como o Brasil com uma legislação tão a frente do seu tempo demore tanto para efetivar suas leis e projetos? Se um povo não reivindica os seus direitos como uma real democracia, então não podemos em nenhum momento, “achar” que tudo cairá do “céu” que não vai cair. Essa é a questão, não podemos nunca deixar de reivindicar porque assim não deixamos de ser “esclarecidos” sobre a questão em discussão.

Mas o que estaria em discussão? A Inclusão, pelo menos da pessoa com deficiência, está no âmbito errado, pois temos antes de tudo analisar que é muito complexa a questão. Primeiro que a “minorias” que se dizem tal são na verdade “maiorias”, ou seja, grande parte do povo se encaixa nessas chamadas “minorias”. Segundo, as pessoas com deficiência estão chegando a seu espaço cada vez mais, hoje vejo mais pessoas saindo nas ruas e passeando nos Shoppings da vida; mas muitas (em sua maioria), estão trancadas ora em suas casas porque a família vai idealizar que vão “rir” de sua deficiência, por ser uma vergonha para o “pai” que não fez direito, ou por ser castigo divino; ora em instituições que visam incluir que na verdade, são depósitos de pessoas que são em grande maioria, tratadas como crianças por elas. Se eu fosse me enveredar no existencialismo sartreriano diria que temos a escolha de escolher, ou seja, somos condenados a ser livres; essa condenação vai refletir em nossa vida e várias situações que queremos ou não, que pensamos que são inevitáveis, mas o são evitáveis ao ponto de fazemos essas escolhas e então, somos metade culpados e metade inocentes.

As escolhas são nossas, mesmo impedidos de movimento, mas no entendimento contemporâneo somos seres humanos que merecemos ter uma vida como os outros humanos. O direito a vida nos foi assegurado na carta universal sobre o direito do homem, onde está que todo ser humano tem esse direito, direito de escolher o que é melhor dentro do âmago social, socialmente não podemos mais ser “excluídos”. Mas temos outro inimigo, o comodismo de várias pessoas, ou a maioria, de ter o esclarecimento e não usar esse esclarecimento como argumento para fazer essa escolha. O esclarecimento já é uma base para sermos livres, se esclarecer sobre tudo nos fazem seres humanos mais humanos, mais envoltos a razão. Kant no seu texto sobre “o que é o esclarecimento?”, vai nos dizer que muitos podem ter, mas não o querem por ser cômodo ser “ignorante” e receber tudo se fazendo de “coitado”. Acontece isso com a pessoa com deficiência porque ele tem duas opções: a-) ou se acomoda em suas “vidinhas” insignificantes de receber tudo o que queira e se isolando da sociedade; b-) ou lutando para uma independência dentro desse “esclarecimento” para se libertar tanto das amarras do “comodismo”, quanto das amarras do “cárcere” de ser “sub protegido” tanto da família, quanto na sociedade com esse esclarecimento.

Mas como adquirir esse “esclarecimento” sendo quê a maioria ainda se limita a ser um “scholar”? Ou seja, se limitar em aprender alguma coisa das matérias básicas escolares que Kant nos diz que é bastante comum. Mesmo depois da “Era do esclarecimento”, ou Iluminismo, que jogou dentro do raciocínio humano o esclarecer para ele próprio poder escolher, a Reforma religiosa na época foi uma resposta a está afirmação, quando Lutero em sua formação agostiniana viu que havia o cárcere conceitual de não revelação, ponto a “palavra” no âmbito dos mistérios. Nada pode ser privado do ser humano, a saber, nada pode privar do “esclarecimento”. Só que é muito mais cômodo ser “privado” disso e se esconder atrás dos outros dizendo “eu não sabia”. Desculpem os teóricos marxistas, até Paulo Freire que gosto muito, mas se temos um rádio e uma TV não somos tão ignorantes assim, pois já vi, até programas populares esclarecer sobre as “minorias” e sobre a importância de várias coisas, sem trocadilho, “desculpa de aleijado é a muleta”, ou seja, a desculpa de toda pessoa que não quer agir ou andar com as próprias pernas é a muleta que o sustenta.

Para ser um Scholar, devemos ter um profundo estudo de determinado assunto, ou de vários assuntos ao mesmo tempo. Vou dar um exemplo: gosto de ler muito filosofia e teologia e posso muito bem, sem amarras conceituais, ter uma visão da inclusão dentro de inúmeros assuntos tanto teológicos ou filosóficos. Esse texto, como o outro “Rampa para quê?”, tem um âmbito filosófico que ponho dentro da filosofia kantiana tanto do esclarecimento, tanto da virtude. Como posso pôr no âmbito teológico como as palavras de Cristo quando ele diz que a “verdade” vai nos libertar. O que seria a verdade nesse caso? A verdade é o esclarecimento, é saber porque se deve acreditar naquilo, se não for para seguir algo ou alguém, pelo menos seja para te libertar. Assim, vamos chegar num ponto delicado do “saber”, ou seja, se posso saber como poderei saber que sei, se aquela informação é mesmo aquela que estão me passando? A duvida é o começo do “pensar” e compreender e querer saber mais sobre, querer ir muito mais além, querer enveredar no âmbito do conhecimento humano. Daí, nesse contexto amplo, podemos compreender o que seja a idéia (eidos em grego) da palavra “inclusão”; incluir uma parcela da sociedade deixada de lado que não se “encaixa” dentro da sociedade num todo, pensamos num trem onde cada membro social é um vagão, somos penas vagões imperfeitos. Aliás, o ser social em si é platônico que procura a perfeição, nesse contexto, a inclusão deve acontecer.

O esclarecimento na “era digital” é inevitável, temos várias informações sobre o que acontece no mundo pela internet, então temos o maior poder do esclarecimento de toda a história humana. Ora, com isso o mundo fica pequeno e podemos ter mais interações entre as pessoas com deficiência, que por mais que não queiramos, achamos uma coisa “fria”, podemos ter um maior esclarecimento como é em outras localidades. Podemos até mesmo conhecer as leis que nos beneficia que podemos usar ao nosso favor, magistral favor de uma causa nobre. Mas mesmo tendo esse recurso não o a usam, não presta ao trabalho de se submeter a um instante de adquirir esse conhecimento, esse esclarecimento dentro da causa, dentro de um bem maior.

Talvez nossa cultura “populista” deva a educação católica que recebemos, onde o filosofo e fundador da sociologia Max Weber observou, que não é o mesmo que os países protestantes e isso é muito fácil de observar. Para os católicos, temos que ter “compaixão” daqueles que não se defendem e não podem ter uma vida dita “normal”, ou que, temos que se submeter aos mistérios da santa trindade (pai, filho, espírito santo) que não dá lugar ao saber e ao esclarecimento. Tudo é reduzido apenas a submissão ao mistério que põe a humildade a custa da miséria, ou seja, para sermos humildes temos que ter menos bens e sempre tratar o outro com mero “paternalismo” aflorando o preconceito. Assim, nos países protestantes não ocorre com freqüência (embora o veja mais aflorado como nos Estados Unidos da América) onde o saber e o patrão de vida bom, não trás o ser humano no “pecado” e sim é devido à “graça” que recebeu de Deus; o único problema ainda igual é o preconceito, onde até pouco tempo nos Estados Unidos uma pessoa com deficiência não podia sair às ruas, pois era crime de “exposição de um defeituoso”. Os países da América Latina, tanto do lado português como o espanhol, exportou dos seus colonizadores essa visão de humildade exagerada da religião católica, é uma herança medieval onde o vassalo não podia ter mais que o Senhor Feudal e então se consolava (a igreja), que com humildade podemos chegar ao paraíso e assim era até a reforma.

Estou abrindo esses parênteses, para explicar o porquê tantas pessoas pensam que ser humilde é ser “coitado”, pois sempre nos referimos a “pessoas humildes” a pessoas que tem pouca renda ou poucos bens adquiridos. A palavra humildade vem da palavra latina húmus que quer dizer terra fértil, ou seja, o verdadeiro humilde é uma terra fértil para receber a semente da sabedoria ou conhecimento. O que estamos estudando no texto aqui? O esclarecer enquanto pessoas humanas, pessoas que podemos aprender e ser humilde é realmente ser a terra fértil para receber a semente. Não foge em nenhum momento do evangelho onde Jesus diz que a “verdade” nos libertará, pois com a “verdade” o espírito tem mais condição de observar o que está ocorrendo, o que está em nosso mundo que ainda se tem uma “verdade” aparente. Não é erro nenhum, ter mais do que se tem, do que se pode ter porque em outro trecho do evangelho Jesus diz que devemos dar a Cesar o que é de Cesar e de Deus o que é de Deus, ou seja, pagar pela vida terrena com o trabalho crescendo mais e tendo fé do dia melhor e confiando em Deus. Nossa cultura católica nos deixa a mercê de pessoas que querem se aproveitar da aparente “ignorância” de nosso povo, mesmo em outras religiões, em que ser humilde é não ter coisas no qual não se pode adquirir. Assim, até mesmo a “graça” é algo que devemos nos submeter e não recebê-la pela fé, pois tudo que esperamos pela fé é algo que temos sem pedir, ter fé é acreditar que “aquilo” aconteça; mas não podemos esperar que a “graça” venha da falsa humildade que é não querer crescer, pois Deus dá a “graça” por vontade e incondicionalmente. Porque estou divagando sobre? Porque muitas pessoas com deficiência pensam que não podem superar para conseguir essa “graça” ou algo assim, aceitando sua condição com humildade e não querer ser mais do que já é, e assim, é um erro crasso.

A inclusão só é concebível com a verdadeira humildade que pode receber o conhecimento esclarecedor, assim assimilando esse esclarecimento que vem a sabedoria que pode ou não ser adquirida pelo conhecimento, vivendo isso. Para ter uma real “inclusão” temos que ter o esclarecimento sobre, e esclarecer é realmente dar o conhecimento as pessoas para melhor “lutar”. Não é também valido, ter somente um setor da vida humana favorecido com esse esclarecimento, pois segundo mesmo diz Immanuel Kant:

“...O pastor dirá: ‘Nossa igreja ensina isso ou aquilo; estas são as provas que ela usa’. Nesse sentido, ele beneficia a sua congregação tanto quanto possível por apresentar doutrinas nas quais não acredita completamente, mas se compromete em ensiná-las pois não é completamente impossível que elas não possam conter alguma verdade oculta. Em todo caso, ele não encontrou nada nas doutrinas que contradiga o coração da religião. No entanto, se ele acredita que tais contradições existem, ele não estaria mais habilitado para administrar seu ofício com clareza de consciência. Ele teria que renunciar ao seu cargo...”

Ou seja, não podemos favorecer algo ou alguém com o esclarecimento, mas um bem maior. Não podemos criticar uma ordem, uma regra que você se submete porque sabia delas ao entrar, então ao criticar, seria perigoso para a ordem social e política e além de ser hipócrita e amoral. Mas ao chegar em casa, por exemplo, podemos escrever um tratado sobre os erros de nosso oficio e esclarecer quem quer segui-lo obrigando a sempre melhorar se eles querem ver outras gerações a seguir; podemos dizer que, não temos o habito de adquirir um esclarecimento dividindo o mesmo, não jogamos sementes nas outras “terras férteis” e isso é danoso, tanto na nossa causa, como numa causa social mais abrangente. Será que não foi isso que Jesus quis dizer com a parábola do semeador? Não só a “palavra” divina, o “conhecimento” divino, mas tudo que o universo nos oferece é divino, é feito da sabedoria divina. Quando o Arquiteto do Universo disse “fiat lux”, ele deu ao seu saber expansão, então saber não é “pecado” e sim “graça” de ver aos olhos divinos e ter a verdadeira humildade para fertilizar as terras férteis. Uma pessoa com deficiência é um ser humano em potencial, não diferencia dos outros seres humanos, só quando existe uma deficiência mental, ainda assim, no entendimento dele se pode esclarecer; temos vários exemplos de pessoas com deficiência mental que tem uma vida relativamente produtiva, já vi e li pessoas acometidas de síndrome de down que trabalham e até casam, é um exemplo tanto eles como a família. Muitas família de pessoas com deficiência física, sub-protege essas pessoas pondo sempre na cabeça que aquela pessoa não pode ter uma vida, trabalhar, casar, fazer as coisas que todos fazemos.

Com o esclarecimento devemos sempre conhecer e levar a conhecer a real situação da pessoas com deficiência, com uma efetiva inclusão e melhor de tudo, uma melhor situação dentro do pensar humano; somos também terras férteis a ser cultivadas pelas sementes do esclarecimento, só que o fertilizante é a vontade, é querer que a verdade o liberte. O fim ultimo do ser humano não sei e pouco suspeito, porque não sei os desígnios do Pai Celestial, mas todos nós temos esses corpos porque podemos agüentar, porque ele nos confiou essa tarefa de mostrar ao mundo que a única perfeição são duas e uma vai ao encontro da outra:

a-) Quando temos a capacidade de filtrar o saber real, sempre limitando em coisas boas, a virtude se dá na verdadeira sabedoria em fazer o bem e nesse bem saber coisas úteis; a utilidade desse saber lhe faz uma pessoa que sairá do senso comum que tanto tem o preconceito e o limitar-se em ver coisas “pequenas” e ao comodismo.

B-) Com isso, a perfeição da alma acontece e nós desenvolvemos o poder de ver além, assim, melhorando o espírito e assim o corpo fica limitado a apenas ser um misero acessório para mostrar que não existe a perfeição que fantasiamos. Pois a perfeição da natureza (ou divina) tem seu próprio percurso diante do que se idealizou, seu saber é muito mais amplo do que podemos ver.

Mas temos que ter cuidado hoje se tem muito em Volga que tendo o conhecimento podemos fazer o que quisermos e não é assim; quando temos o esclarecimento das coisas não podemos mais estarmos presos em falsas “liberdades” que pensamos ser escolhas. Daí vira “libertinagem” que é muito diferente, é um saber diferente e pouco provável, porque destrói a si mesmo dentro da sua alma e a falta de convicção que são acometidos. Tomar alucinógenos para moldar um mundo, ter no sexo o prazer que não tem, ter nos exageros externos o que não temos no interno. A pessoa com deficiência quando se depara com a liberdade que aparenta ser a real, faz tudo isso sem medir as conseqüências, ai muitas famílias vem isso como um mau exemplo ( que mostra a falta de confiança de sua própria educação). Mas é um fato que nos deparamos dentro de muitos movimentos que ensinam a liberdade sem medida, depois reclama que algumas famílias não deixam os seus em ir a suas reuniões ou em seus passeios.

Portanto, não temos que nos portar como irresponsáveis, como se fossemos crianças ao ponto de sermos impulsivos. Mas mostrar que somos mais do que o senso comum, porque ele está cheio de preconceito e “alienagens” que só foram produzidas para dominar a massa. Deus tem um propósito para cada ser, para cada célula dentro de cada ser, pois então, o saber é divino porque sabemos que tudo é ele que nos dá para um melhor viver e se somos imperfeitos de corpo, ele sabe a força que nossa alma tem.