Wednesday, December 17, 2008

Rampas para quê?




Bem, faz muito tempo que não escrevo sobre pessoas com deficiência que deixei um pouco de lado, porque pelo simples fato de está completamente desiludido com os movimentos que “deveriam” cuidar das pessoas com deficiência. O motivo é bem simples, muitos desses “movimentos” não estão vendo o “apartheid” dentro de nossa sociedade com pessoas como nós, apenas não podemos ter mobilidade como as outras pessoas, mas que pela estrutura genética, somos seres humanos. Ora, agora me perguntem o que vejo dentro desses movimentos? Em primeiro analisamos, toda pessoa com deficiência tem sua limitação, ou não consegue subir na calçada, não consegue subir para o ônibus (diga de passagem, até mesmo os adaptados), mas como vi, não é exagero, “meu” problema é muito mais importante do que do colega do lado. Isso não vi só dentro desses “movimentos”, vi lá quando fui para Brasília na primeira conferencia sobre a juventude, pois nem chamavam de dificuldade, era “problema” mesmo.

Segundo, mais importante é analisarmos porque que autores vem desenvolvendo artigos sobre pessoas com deficiência e tem usado “apartheid” dentro de seus artigos, cuja seu significado entra muito bem para definir o que vivemos. Terminologicamente, essa palavra tem origem sul africana que significa “vida separada”, foi muito empregada dentro da política daquele país para separar os negros dos brancos. No nosso caso essa palavra cai muito bem, pois por vários anos e estudos, venho observando que a pessoa com deficiência se sente separada da sociedade, e por muito tempo, agregada a pessoas que não tem vontades ou desejos. Numa empresa, não podemos preencher cargos elevados, não podemos ser administradores, executivos, mesmo se temos diploma. No maximo, temos que nos contentar em preencher cargos de telemarketing, caixas de atendimento e por ai vai. Isso não seria uma “apartheid” dentro de nossa sociedade? Não é uma vida simplesmente a parte da sociedade vigente que se diz liberal e cristã? Pois é, por mais que usamos terminologias corretas, por mais que construímos rampas e acessos, existe o preconceito e a falta de informação para nos proteger.

As leis estão ai para ser usadas quando for possível, essas leis servem para proteger um setor ou uma sociedade, leis que põe todos em pé de igualdade. Mas onde está esta igualdade que tanto dizem num regime democrático? Vamos explorar filologicamente as palavras “igualdade” e “democracia”, porque é muito importante saber as terminologias do nosso cotidiano, muitas palavras nem sabemos porque existem. Segundo o dicionário Michaelis online, a palavra “igualdade”: “sf (lat aequalitate) Qualidade daquilo que é igual; uniformidade.”, tudo que deva ser igual deve ser em termos de igualdade, uma lei ou uma resolução, deve tratar todos os seus membros em igualdade. Esse termo usado agora (era pós-modernidade), foi copiado graças aos pensadores do iluminismo que pensavam que uma nação justa seria de valia temos dentro das leis vigentes, igualdade perante todos, assim, acabando com os “escolhidos”. O termo “democracia” é totalmente grego, quer dizer (demo= povo, kratos=autoridade), ou seja, a autoridade do povo ou governo do povo, em termos mais gerais, a polis tem que ter o governo do povo que é regido, pelo menos em teoria, pelas leis que o próprio povo; isso daria um “ar” de igualdade perante todos, porque um não seria mais do que os outros. Digo em teoria, porque em nenhum lugar que se diz ter um governo democrático, o povo rege e escolhe suas leis, porque tem os “representantes” do povo. Essas leis beneficiam o povo em certos momentos, em certas coisas, o próprio povo não compreende o termo de “igualdade”.

Mas hoje existe dentro dos Estados (Nações), realmente igualdade de direito? Não no termo mais puro, pois os cidadãos dentro da polis (sociedade/estado) exige que sua idealização de mundo prevaleça. Cidadão, pelo menos do Brasil, antes de 1950 pôs aqui a “lei do Gerson”, ou seja, se eu não levar vantagem então não vale a pena, mas uma nação que todos querem vantagens ninguém a tem; como também quando todos mandam ninguém manda, ou seja, ninguém se entende com milhões de vozes. A democracia em si mesma é o melhor regime, mas o que acontece é que igualdade não é bagunça, não se pode estabelecer regras sem ter ordem e é uns dos ideais iluministas dentro de nossa bandeira é “ordem e progresso”. Numa sociedade onde não tenha “ordem” não existirá “progresso”, essa “ordem” só pode ser estabelecida dentro das leis vigentes e essas só podem ser usadas e idealizadas pelo povo. Mas, e quando o próprio povo não é igualitário ao ponto de dar chance para todos, quando rotula alguns cidadãos que não tem ou fazem iguais suas idéias ou tem a aparência “comum”? Uma nação que não tem cidadãos democráticos não pode conter igualdade e assim, não pode ser chamados de tal modo. É o que acontece com as pessoas com deficiência, não existe igualdade diante da própria sociedade vigente, por causa da própria família que o a descrimina.

Isso me lembra das três palavras básicas da revolução Francesa que eram “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, cuja o lema consiste em que sem a liberdade não podemos exercer o que nossa natureza de espírito exerce e não haverá igualdade para com os outros, esse convívio gerará por natureza, a fraternidade onde todos convivem em pé dessa igualdade. Na verdade, fraternidade é quase sinônimo de igualdade que os cristãos reafirmam com a frase máxima: “não faça com o outro o que não querem que façam com a ti”, ou seja, como podemos agir com preconceito e desrespeito com opiniões alheias se não somos respeitados também? Então podemos dizer que fazemos igual padre, faça o que eu digo, mas não façam o que eu faço; várias vezes podem apontar o dedo para o outro com o outro apontando para si mesmo. A fraternidade é um convívio entre irmão, entre seres que vieram e tem a mesma origem, que fazem a mesma sociedade. Essa mesma que “exclui” as pessoas que não tem a mesma aparência ou que não tem o mesmo conceito, então, não posso conceber que são pessoas democráticas porque não abrem mão de seus conceitos para o bem – estar da maioria.

Não podemos nos gabar de ter evoluído tanto do mundo antigo que se matavam pessoas como nós, como em Esparta que se matavam os “defeituosos” ou em Atenas que o patriarca da família poderia matar um filho nessas condições. Não podemos dizer que as condições são melhores do que agora de que antigamente, que mesmo com a tolerância cristã, podemos ter uma vida muito mais digna de respeito. Aliás, muitos que acreditam que o comunismo é o melhor regime não têm em sua conduta o “respeito”, porque “achar” que uma parcela de cidadãos tem o direito mais do que a outra é pura canalhice de invejoso. Querer que uma parcela sobreponha a outra é anti-fraterno porque não está se propondo a igualdade, pois o problema não é fazer o rico ficar pobre e sim fazer com que a maioria viva mais dignamente e fraternizar a sociedade.
As pessoas com deficiência não vão se “incluir” na sociedade se a família começar a idealizar que ele não pode fazer isso, não pode ver aquilo, não pode ter aquilo outro é “excluir” a capacidade do ser humano da adaptação ambiental. Immanuel Kant, filosofo iluminista, dizia que o ser humano aprende a virtude no colo de sua mãe, ou seja, não é a educação escolar que faz um ser humano. Se qualquer criança põe apelido nos defeitos dos outros, isso é devido da suposta virtude que se aprendeu em sua casa, no colo de sua mãe ou o exemplo do pai. Ora, todo cidadão que tenha a virtude é um ser humano justo por natureza, ou seja, para ele o termo “justiça” é a priori. Todo conceito levado ao exemplo pela educação e a demonstração, não será preciso levar ao ensino da mesma, porque a convivência fará não ser preciso a experiência. Um ser humano preconceituoso teve seu exemplo em sua casa, como um ser humano corrupto e por ai vai, pois o exemplo é a maior virtude a ser ensinada a um filho.

Como um ser humano que explora o outro ser humano que não pode se defender e exclui também, pode exigir do governo que supostamente é do povo, que não exclua e não explore a ele? Como podemos proibi alguém de ir e vir e exigir do governo que proíbe até de nós argumentarmos, de ter esse direito? Por isso que sempre digo que o problema “maior” não é rampas ou acessos, porque isso é o mínimo que estabelecimentos civilizados podem nos garantir, mas é muito mais complexo do que isso e vai até a própria família da pessoa com deficiência. Como posso exigir aquilo que não faço? Não posso exigir da sociedade aquilo que não fazemos, pois exigimos sempre aquilo que sabemos que sempre não faremos. Isso com toda certeza, chama demagogia.

O que fazem os movimentos? O problema maior é ainda a união entre as pessoas com deficiência, porque se olhamos muito nosso próprio “umbigo” e pouco o do outro, não podemos nos unir. Por que será que os movimentos de negros ou de mulheres ou de qualquer setor desses, conseguem tudo que reivindicam? Porque eles entram em maior consenso e fazem disso a pratica, se houver preconceito “processa”, se houver cárcere denuncia, usam a lei como deve ser feito. Por muito tempo acredito que se o segmento não faz suas leis “emergirem” para melhor ajudar, então para quê queremos “movimentos” que não movimentam, usam o dinheiro do Estado para “passeios” ou terapias ocupacionais sem propósitos? Fazer reuniões para resolver se a reunião vai acontecer é jogar uma proposta fora, é levar um movimento a inócua existência que não podemos dizer se é ou não um. Aliás, movimento já está contida o termo movimentar, que deve ser exigido como terminologicamente cabível.

Então se não há união e se não há virtude dentro de nossa sociedade, não podemos analisar nada por meios ideológicos ou mágicos, como curas milagrosas ou conceitos que só vamos ser felizes “perfeitos”. Isso é uma idéia nazista que difundiram seu governo a “morte” digna como meio de parar nosso sofrimento, por não sermos perfeitos não podemos ser felizes; mas quantas pessoas ditas perfeitas são infelizes porque tem que usar a beleza ou o dinheiro para ter um pouco de atenção, ou são frustradas porque não foram dignas de um amor verdadeiro ou paz de espírito? O próprio Adolf Hitler era um sujeito frustrado porque não foi aprovado como pintor, mesmo assim pintava e nunca ter sido um oficial, que o levou a procurar culpados. Como disse Sartre, o inferno sempre é feito pelos outros e não por nós, culpamos sempre o outro pelos nossos próprios fracassos.

Portanto, podemos ter inúmeros “movimentos” para lutar a favor das pessoas com deficiência, mas o núcleo da luta está na pessoa com deficiência; sua própria família deveria ser doutrinada, deveria ser esclarecida para melhor “incluir”. Incluir é ter certeza da igualdade e essa igualdade é a melhor maneira para a luta para a pessoa com deficiência.