Tuesday, January 25, 2005

Sexualidade do deficiente


Amauri Nolasco Sanches Junior



Com meus estudos e tudo que leio, o deficiente físico, mental ou crônico, não importando, que se tem que se conviver com o preconceito e a forma de pensar errônea feita pela sociedade que o julga como pessoas que não pensam. Quando lemos relatos ou estudos, vimos que o deficiente que tem e existe só é o deficiente paraplégico; não que isso atrapalhe, ou se tudo se resumisse em uma só deficiência. Mas o leque é muito mais intenso do que mostra esses estudos, que apenas dão a maneira corporal e não psicológica que é também muito importante.

A baixa estima do deficiente em geral vem da humildade cristã que junto a ele, foi introduzida dentro da cabeça dele; mais profundamente, a cultura brasileira e latina já é arraigada de pontos de submissão. Mesmo se pensarmos mais amplamente, nossa cultura veio já com aquele aspecto de “coitadismo” a pena por comer o fruto do pecado que esta no Gênese. No momento em que ele não se conforma com a própria situação, se rejeita num casulo. Isso é tão normal quanto parece.

Isso ao que parece, vem de nossa cultura de submissão que esta mais que evidente, como vimos nas cantigas de roda, por exemplo. Quando ouvimos tal cantiga vimos que nunca o personagem pode ser feliz, como ciranda cirandinha que “o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco se acabou”. Isto mostra que o anel (o compromisso) era de vidro que é um material frágil, se rompeu por uma quebra, o anel se quebrou, dividiu. Outro momento o amor que se tinha era pouco e se acabou, lembre que o anel se rompeu e o amor que se tinha em torno desse anel era tão pouco que esse se rompe e o amor se vai, assim não havendo felicidade. Outras mostram discórdia, como o Cravo e a Rosa que “brigaram numa sacada, o cravo ficou ferido e a rosa despedaçada”, vejam que a cantiga já começa com a briga do casal referido, no outro momento diz que “a Rosa foi visitar, o Cravo teve um desmaio e a Rosa pôs a chorar” sendo que a Rosa e o Cravo nunca poderiam ter uns relacionamentos felizes e satisfeitos. Isso cria os moldes da cultura submissa, arbitraria e desumana.

Não fica só nas cantigas de roda, na nossa musica popular brasileira também vimos certas denuncias de preconceito e submissão sentimental. Como vimos no samba de Dorival Caymmi se diz “Quem não gosta de samba/bom sujeito não é/É ruim da cabeça/ ou doente do pé...”. Esse samba mostra o quanto é preconceituoso, pois quem gosta de samba tem a bondade e quem não gosta bom sujeito não é. Portanto, se rotulou que a bondade veio do samba e a maldade é de outros ritmos musicais, já é um preconceito. No segundo momento ele fala que quem não gosta de samba ou é “ruim da cabeça”, que é uma expressão para designar quem é deficiente mental, assim, esta designando que o deficiente mental que não gosta de nenhuma musica; e quem não gosta de samba é deficiente mental. No segundo momento diz: “... ou doente do pé...”, designou quem não gosta de samba é deficiente físico, ou congênita de má formação do pé, isso é uma forma de preconceito por achar que deficiente físico não gosta de samba e quem não gosta é doente do pé, rotulo.

Podemos também designar muitas musicas que põe muitos seres humanos a beira de se sentir pequenos, de amadas que realmente não irão voltar ou que nunca deixara o outro por ele, não sendo feliz. Outra musicas nós observamos que o sujeito (portador do sentimento) não assumir seu amor pelo ser amado ( o outro ente). Como na musica de uma dupla sertaneja, como iremos ver no caso de Gian e Geovani onde se diz: “A gente quando não se assume”, quer dizer que ele não assumiu e “No corpo o sabor amargo do ciúme”, ainda teve que sofrer pelo “amargo ciúme” e assim não ter a tal felicidade. Outro momento da musica eles dizem que a moça escreve uma carta e diz: “Ela disse meu amor eu confesso/Estou casando mas o grande amor/Da minha vida é você”, ou seja, ela de nenhum momento vai e desfaz o casamento por causa dele e isso é um fato; vai fazer um casamento infeliz, vai ser infeliz e ainda sim o fará. Não se pode ser feliz porque dentro dela há a culpa de amar e ele não pode ficar com ela por sentir esse amor, o sentimento de culpa invade a cultura.

Dentro da religião também vimos, já que ela é a pilastra da cultura ocidental com a Igreja Católica Romana e após surge com o mesmo ênfase as protestantes, que põe o homem como portador do pecado. Nós não somos merecedores deste, pois nosso ancestral Adão comeu o fruto do conhecimento, pois é, nós fomos punidos pelo conhecimento. Cantigas religiosas contem muitas suplicas de perdão como a Ladainha de Nossa Senhora que diz para o “Senhor tenha piedade de nós”, pedir a Deus uma piedade por um erro não dele. No meio religioso se diz muito “rogai”, uma derivação de rogar tendo origem no latim “rogare”. Pedir com instancia, por favor. Dentro da liturgia somos tratados como “coitados” ou como vimos na idade media que éramos tratados como sem alma, não tínhamos nem pensamentos por não ter a perfeição de Deus. Como um Canto do Cegos que diz: "Meu irmão me dê uma esmola nas horas de Deus, Amém. Eu fui quem cheguei agora , Peço licença premêro a Menina da Sinhora, tô pedindo e tô rogando, meus sinhores e sinhoras.", essa vem do nordeste e já dá uma base que nós deficientes temos que pedir esmolas, portanto não somos produtíveis. Portanto a cultura religiosa vem nos castrar para sermos mais bem supervisionados.

Dentro de toda a historia de nosso país e porque não do mundo, nós deficientes não temos espaço, tendo hoje uma educação inclusiva como um meio de esmola. Mas diante da sexualidade, o deficiente é deixado de lado, pelo menos os que têm síndromes e outras deficiências além dos paraplégicos, como no caso hoje se procurar na internet só estudos dos paraplégicos serão encontrados. Isso mostra a ignorância sobre o assunto no meio, até mesmo em entidades onde somos considerados, assexuados.

Na ciência há muita coisa, mas são muitas vezes voltadas ao paraplégico, que o mercado mais abrange. Muito porem, movimentos que visam a luta do deficiente tentam abranger tal situação, hoje esses movimentos mostram que não só uma parte tem sexualidade e sim, um corpo maior de indivíduos. Além disse tem a moral, que vimos ser a base religiosa. Na idade media, não podíamos ter relações sexuais por não poder reproduzir, isto acarretou até no momento, pois dentro da sociedade moral, se uma pessoa não deficiente tiver relações com um deficiente será taxado de tarado. Fato que envolve muitos deficientes e não deficientes, como no caso dos devotees que tem forte atração sexual dos mesmos.

Devotees são pessoas que “é alguém que sente uma forte atração por pessoas deficientes”, como esta numa pagina de internet, sendo tratados como meros “tarados”. Mas são pessoas que tem seu gosto sexual, pois “que os homens que se sentem atraídos por mulheres louras, são ou não doentios?”. Não tratamos aqui os por menores sobre o assunto, mas deixo registrado que “é uma questão de gosto” não uma questão de perversão.

Mesmo quem não tem tendência devotee, sofre esse preconceito, como casou com um deficiente irá trair ele ou ela, trancara ele em casa e fará com outros ou outras por ai. Isso é um motivo para preconceito, pois estão rotulando as pessoas e pior, estamos sendo santificados. Ainda é pior dentro da família que ao deficiente que depende e tem que submeter a vários tratamentos, a submissão, abusos e internação. Casos de sub - proteção são muito comuns, sendo o deficiente ser trancado dentro de sua casa, sendo sua família portadora de uma ignorância grande; pois os médicos não esclarecem e sim, alimenta a sub – proteção que já é peculiar dentro das famílias católicas e religiosas. O abuso é também comum a deficientes que não podem se defender, sendo na maioria acometido na mulher deficiente, onde temos até hoje uma cultura machista de ainda tentar submeter a mulher e quando não é conseguido; partem para que não podem se defender ou, estão entorpecidos por drogas alucinógenas.

No meio cientifico, abarrotados de preconceitos que deixam muitas pesquisas a desejar, como as das células-tronco. Onde mais uma vez, pregam tantas vezes a comunhão entre os homens. Mas o que vimos, nós sejamos tratados como crianças ou poucas pesquisas, como para sermos humanos temos que andar. É uma idéia antiga que modernizaram, como o deficiente não ser capaz de fazer seu trabalho, ter suas coisas, ser “dono” do seu nariz, até mesmo fazer “sexo”. Por essas coisas que estudos não são feitos, assim sendo, tendo muito mais estudos e exercícios para pessoas que ficam depois com alguma deficiência; como os paraplégicos que não eram deficientes, mas por algum acidente ou eventual rompimento da vértebra, que eles como já tiveram uma vida “normal” são visados mais. Não que todos devam ter, já que são igualmente deficientes, mas me parece, que na sexualidade é muito mais estudada.

Concluímos que: o deficiente tem seus direitos e deveres, portanto, não deixando de lado que somos cidadãos; se somos cidadãos somos por direto seres humano, pois não podemos ser cidadãos para votar e consumir se não podemos ter transporte adequado, não podemos ter um emprego adequado e não podemos na visão da sociedade uma sexualidade. Então motivos remotos ou não de filosofias e pensamentos que fazem de nós seres abstratos que só vivem no imaginário popular, como coitados ou até mesmo, imagens alegóricas.