Thursday, May 14, 2009

Eram nós deuses deficientes?


Eu gostaria de agradecer ao mais novo texto do meu mais novo amigo Pablo do blog “O que é Direito?” e dizer que é uma honra imensa ter meu nome mencionado em dois dos seus textos de direito. Aliás, gosto muito de estudar a matéria e estou lendo o livro do Professor Miguel Reale Filosofia do Direito que é muito bom e recomendo, mas minha vocação tende mesmo a publicidade onde estou cursando a distancia. Mas devo acrescentar alguns aspectos do meu outro texto que escrevi e dizer mais algumas coisas alem, pois como sempre, viajo na maionese bonito (risos).

Em primeiro esse nome é uma provocação, pois ele veio do livro do suíço Erich von Däniken “Eram Deuses astronautas?” onde ele especula que civilizações antigas teriam tido contato com extraterrestres. Não tive o prazer de ainda ler, mas meu texto é uma provocação ao que chamo de “angelização” da pessoa deficiente física, palavra essa que eu mesmo inventei para a condição que a sociedade nos impõe, uma condição andrógina. Todo ser andrógino não tem sexo, porque eles não tem os dois pólos, tanto o feminino como o masculino, como anjos que não existe sexo. Mas por que o nome? A sociedade nos vê como “deuses” alienígenas que não temos um vinculo com o mundo e a humanidade, que para mim é um simbolismo barato, um simbolismo que nós que estudamos publicidade sabemos muito bem que são apenas jogos de linguagem; como um slogan, “sempre Coca-Cola” ou “casa Bahia- liquidação total a você”. Pois não podemos falar de sexo, diversão e arte como diriam a musica do Titãs, “Comida”.

Em segundo, muitos amigos se sentem fora da civilização humana e não vem o mundo em volta, se fecham no seu próprio mundinho e esquecem que existe uma cultura humana, que somos humanos também. A pouco tive uma discussão num grupo do Yahoo de deficientes chamado Ciadef onde o colega disse que entre o blog do nosso colega Eduardo e o meu que falava de muitas coisas, ele ficava com o blog dele que falava de cadeiras de banho e tal. Isso mostra que as pessoas deficientes se fecharam em seu próprio mundo, esquecendo que o mundo lá fora inventou as cadeiras de banho, as muletas e as cadeiras de rodas. Respondi que “falar de cadeiras de banho não é meu forte cara”, porque não acho relevante analisar coisas que eu acredito dentro das cadeiras de banhos e sim, tentar ajudar os deficientes a ter uma visão ampla do mundo. Só faltam me convencer que devo orar e fazer oferenda a Hefesto, o deus coxo da antiga Grécia, porque é deficiente.

Achei muito interessante a analise do amigo Pablo sobre que nomes devem nos chamar, pois eu acredito que há uma distorção a esse respeito, mesmo se tratando na constituição nacional. Para começar, para pessoas que tem tudo resolvido dentro de si sobre deficiência não vai se importar de se chamado de “aleijado”, “coxo”, ou outro nome qualquer e sim, se importar com a maneira que essas pessoas lhe tratam; por isso sempre fui contra as nomenclaturas do tipo “pessoas com deficiência” ou “portadores de deficiência”, sempre algo do tipo, como isso fosse uma “dor na consciência” da humanidade por tudo que foi feito conosco, o mais recente, as inúmeras eutanásias e mortes pelos nazistas. Mas eu não ligo que me chamem de aleijado dês que tenham idéias fortes dentro dos argumentos para me chamar como tal, se não, será esculachado por mim e esquecido no limbo dos lixos das idéias inúteis. Penso que não preciso de carinhos no meu “ego” para ser um ser humano, como os negros precisam porque querem vingança e não aceitação, nós deficientes não queremos e sim aceitação diante a sociedade. São apenas, como diria o Cazuza, “mentiras sinceras...”.

Entre a palavra “eficiência” e “deficiência” existe varias versões e significados que para mim são símbolos e estereótipos de séculos de preconceito e visões erradas, visões essas que não mudam e não vão mudar nossa condição física. Posso ser um deficiente físico eficiente dentro do que faço melhor do que umas pessoas ditas “normais”, para mim é pura relatividade. Alias, essa é uma discussão filosófica de séculos e porque não milênios, pois historicamente cada época tem suas idéias. A uns duzentos anos ou mais, o normal era ter escravos, a séculos atrás o negro como o índio, era dito pela igreja católica como sem alma, não tinham alma e era como animais. Hoje o normal é mostrar o que está errado, principalmente, o quanto se fala de crimes; a policia não pode mais repreender porque os criminosos têm direitos, mas o meu direito que contribuo para a sociedade? Claro que não sou a favor da pena de morte, pois seria uma fuga ótima para esses “patifes”, e sim, trabalhar e pagar tudo que estragaram, até sustentar a família dos trabalhadores que eles tiraram a vida. Isso é um mundo normal? Uma sociedade que cultua a “putaria” não pode e nem deve ser chamada de normal, para mim é uma sociedade anormal querendo ser normal, crianças buscando uma identidade dentro de sua próprias solidão. Lógico que não sou santo, mas exagerar é aberração, seria como se atirar contra o muro num carro a 120 por hora.

“O que faz com que determinadas características sejam deficiência é uma mera construção social, construção esta que estou convencido encontra-se ligada à aptidão das pessoas para desempenhar determinadas as tarefas tidas como desejáveis pela sociedade, o meio social tende a considerar com deficiência, portanto, a pessoa que julga incapaz para contribuir positivamente.” (Feitosa Gonçalves, 2009)

Não poderia ser mais bem escrito, meu amigo Pablo disse tudo em um só parágrafo que agora vou destacar: O que faz com que determinadas características sejam deficiência é uma mera construção social” (grifo meu). Sim amigo Pablo, é apenas uma desconstrução social da nossa humanidade, é medo do ser humano da condição de não poder fazer as coisas que sempre faziam. O preconceito nada mais é que a condição que o ser humano não esta isento, não estão isentos de ficar deficientes e de ser deficientes, ou de alguma outra etnia ser melhor, de sermos uma formiguinha diante do cosmo. Por que rejeitamos tanto Adolf Hitler? Porque mostra o que a humanidade tem de pior, preconceito contra os judeus porque nós cristãos queremos vingança graças a morte de Cristo pelos escribas e a superação deles por serem unidos, morte aos incapacitados graças a deficiências de alguns membros da alta cúpula como Gobbels, o ministro da propaganda nazista que era acometido de paralisia infantil, medo de admitir que não eram e nem são perfeitos e que não somos tão semelhantes a Deus como imaginávamos e Freud trata isso muito bem. Os três “tapas” do ego humano, um foi Copérnico que disse que a Terra não é a “jujuba mais gostosa” do universo, nosso planeta gira em torno de uma estrela de quinta grandeza, aliás. Segundo foi Darwin que disse que não somos o topo da cadeia animal, mas um meio de um processo que ainda não terminou e não sabemos onde vai parar e o terceiro foi Freud que com sua psicanálise, disse que não somos o que somos realmente e sim vestimos uma “mascara” social. Ai Freud chegou onde queria, esses “desejáveis” sociais são aqueles que melhor vestem essas mascaras, são os que mais a humanidade elege como perfeitos.

Lembramos as nobres verdades budistas que dizem não se apegar ao ego e sim sentir o que o outro sente, ver o que o outro vê, enxergar o que o outro enxerga. Essas mascaras nada mais são do que o ego de uma ilusão, eu desejo, por exemplo, uma mulher igual a Angelina Julie, mas para isso enxergamos somente a que fazem dela, não enxergamos ela realmente. Não vimos que ela pode ter os mesmos defeitos de qualquer mulher, pode brigar por ciúmes, pode ter uma diarréia após comer algo estragado, mas é o estereótipo da mulher perfeita é que predomina. O mesmo podemos afirmar as pessoas que tem alguma deficiência, ela é “feia” de se enxergar, isso vimos muito quando uma criança pergunta e aponta a mãe diz ser feio fazer isso. Não se apegar a nada é também não se apegar a imagens, a dizer e fazer imagens de uma pessoa e uma condição é alienação.

Eu sempre costumo dizer que vários intelectuais tentam “estuprar” minha inteligência com tanta asneiras, que ficamos perdido como podemos definir uma sociedade brasileira imatura que chamo a ‘Sociedade da Putaria”. Perdoem meus palavrões, mas não vejo outro remédio e outro adjetivo para se referir a essa anomalia que o Brasil vive e vai viver muito ainda, se não largar a ilusão social que o governo vai carregar neguinho no colo, pois não vai e penso que a defesa tem sim de ser feita com os movimentos. A subalternação nada mais é do que a falta de ação desses movimentos que ao formar seus membros pecam na falta de informação adequada. No mais fico com meu amigo Pablo quando diz: “Como eu costumo dizer, todos temos características que desejamos manter ocultas das outras pessoas, pra isso o direito protege nossa “intimidade”, incluindo aí desde nossas características realmente íntimas até nossas falhas de caráter que não queremos que os outros vejam...”. Falhas de caráter que ate dirigentes de entidades e movimentos tem, escondem pelas imagens de “bons” mocinhos que querem passar, mas soltam “pum” como todo mundo. Daí algumas pessoas: “…não conseguem esconder determinadas características suas e, por conta disso, eventualmente podem ser estigmatizadas socialmente, e só quem passa por esse processo é que sabe o que ele representa!”.

Muito mais gostei da frase do texto que diz assim: “Não se trata de pena, mas de oportunidade! Isso é o que todos os subalternizados precisam afinal!”. Oportunidade de viver nossas vidas, casando, trabalhando, pois como disse meu ídolo Renato Russo: “o sistema é mal, mas minha turma é legal...”. Minha turma é legal e quer uma oportunidade num sistema que visa o perfeito, nem a Melancia ta isenta de varizes e estrias, nem um grupo ta isento de fazer sucesso um verão só. O perfeito dentro da natureza não existe, pois como diz Lavoisier na natureza nada se perde e sim, se transforma. Um dia a matéria que nos forma vai passar a formar outra massa, como nossa massa molecular já foi uma estrela, simples. Mais ainda, o mundo é feito de fatos e não de coisas, já dizia o filosofo austríaco Wittgenstein, assim um fato que pode ser escrito ele é símbolos de algo que a humanidade vive e não uma coisa para ser manipulado ao bel prazer de alguns crápulas.

Daí, se o amigo me permite uma sociedade que diz ser “normal” e tem a lei de Gerson, não seria uma sociedade deficiente moral que é muito pior do que a deficiência física? Digo física numa maneira visível, mas abrangendo todas as características deficiências possíveis. Lembro que quando o ator Gerson Brener ficou deficiente por causa de um tiro de assalto na rodovia, a mulher largou ele por ele ter ficado assim. Não julgando, mas seria justo que ela fez, pois quando ele era bom, saudável e bonitão servia e quando ele ficou assim não? Somos seres descartáveis? E a mulher do físico teórico Stephen Hawking que enfrenta coisa pior e ficou com ele mesmo assim? Será que ela não estava com ele pelo status que lhe dava? Amor visando sexualidade e status não é amor, é “fogo no rabo”.

Fugi um pouco e voltei, mas é que minha visão é muito abrangente e não se limita a uma unilateral que o ser humano é viciado e ver, visões unilaterais têm tendências de serem ilusões aos alienados e os ignorantes. No mais agradeço meu amigo Pablo a mais um texto referindo a mim e aos deficientes que sim merecem respeito, claro que não somos santos, temos defeitos como qualquer um, mas o que precisamos é oportunidade. Obrigado!

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